segunda-feira, 25 de julho de 2011

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quinta-feira, 7 de julho de 2011

A encruzilhada do CDS
Nota prévia: sou de esquerda, desde sempre votei e voto numa mesma força política, sem hesitações nem reticências, mas sou capaz de mater o distanciamento necessário para analisar o que se passa com e na política em Portugal, visto que desde de há anos que não sendo muito participativo nas acções de carácter político, sempre vou tomando posição em vários fóruns e palcos que se abrem à minha contribuição. Quem me conhece sabe que sou assim, quem não me conhece que se não confunda, o CDS está longe do meu caminho, das minhas preferências, mas é um partido da nossa democracia, conquista maior do 25 de Abril que a quis Democracia.
Com a entrada no poder, num contexto muito difícil para si, quero dizer, com as limitações impostas pela troika, mesmo que voluntariamente aceites pelo seu líder, o CDS, ao fim de poucos meses vai confrontar-se com uma inequívoca e inultrapassável contradição: como estamos de pensões e reformas, como vamos de políticas de protecção social, em que ficamos quanto à privatização da RTP, e da Caixa Geral de Depósitos? As prioridades da governação vão ser as impostas pela troika, é certo, e quais vão ser as iniciativas do governo? E o seu parceiro do governo, o PSD, como encarará a contestação popular que se adivinha e avizinha? A qual dos parceiros do governo caberá explicar as contradições entre o discurso eleitoral e as restrições de toda a ordem que surgirão nos próximos e futuros meses, será feita a duas vozes ou a uma só voz? É que se for feita a dois, cada um para seu lado, tais explicações serão vistas pela população como desculpas de mau pagador e produto de algum mal-estar e até traiçãozinha ao parceiro, seja quem for que tome a iniciativa; se for feita a uma só voz qual será a visão preponderante? Medida pela fita da coerência? Pois então!
Mas é bom que se diga, e é esta a razão fundamental porque faço esta reflexão, que quem está em melhor posição de partida para enfrentar o ciclo político que agora começa é exactamente o CDS, basta que no momento da partida, nesta altura da formação e discussão do programa do governo saiba colocar e defender a sua posição em face do discurso equidistante dos interesses e mordomias que fez durante a campanha eleitoral. Se souber defender a sua posição à partida ficará com um muito amplo espaço de manobra, visto que numa situação de diferença de posições o CDS pode bater o pé e deixar a situação tender para a divergência, pois o PSD, é quem fica fragilizado já que é este partido que tem a responsabilidade pela solução governativa pós eleitoral. O CDS, se tiver que ameaçar a saída do governo é porque poderá apresentar como desculpa uma medida política que é contrária ao seu ideário ideológico, ao programa com que se apresentou ao eleitorado ou até aos dois, pelo que se aceitou formar parte de uma solução governativa não aceitou, à partida, trair os seus princípios e eleitores a troco de um simples lugar. Este foi o substrato do discurso eleitoral. Enquanto o PSD que será sempre, eleitoralmente falando, o primeiro beneficiado e primeiro prejudicado pelas boas ou más medidas que o governo tomar, mesmo que no anúncio das boas esteja presente algum ministro do CDS, nas más podem estar ausentes e distantes dos holofotes da fama. Se fizer as coisas bem agora, o CDS tripulará o barco da navegação como que à bolina. E o resultado desta estratégia é poder vir a transformar-se num partido mais charneira do que é neste momento, visto que o facto de ser uma charneira com voz e acção nas circunstâncias actuais, pode colocá-lo aos olhos dos eleitores como um partido que cumpre os seus compromissos e que seja com que partido for dos dois grandes, o CDS é merecedor de ter um papel a desempenhar. Paulo Portas sabe, e quem pensa que não sabe é porque deve pouco à inteligência, que este mandato muito dificilmente chegará ao fim, e que quem, dos dois partidos da coligação, melhor souber salvaguardar a sua imagem, tanto melhor poderá sair beneficiado, ainda que em resultado de um falhanço governativo. O CDS sabe, Paulo Portas sabe, que no quadro do eleitorado votante, quer dizer, daqueles cerca de 60% que vota, a transferência de votas está limitada a uns 6/8%, e que quem não for capaz de conquistar votas ao abstencionismo não sai da cepa torta, por isso, sendo o seu eleitoral cada vez mais estável, será forçoso o CDS convencer quem ainda não foi convencido por nenhum dos partidos, e isso faz-se, à direita, diga-se, dando mostras de flexibilidade na construção de maiorias governativas, soluções de governo, portanto, mas igualmente firmeza de princípios. Quem assim procede, à direita, repito, dá mostras de que merece confiança, e este é o valor que em política tudo vale.E aqui tanto faz que seja à direita como à esquerda.
Por isso, a encruzilhada do CDS é uma encruzilhada apetecível, de grande potencial político. Ademais, Paulo Portas para além de uma indisfarçável apetência pelo poder, é um bocadinho mais vivaço que os líderes políticos dos partidos mais representativos, dos cinco partidos com representação parlamentar. Foi para não me esquecer que penso desta forma agora, que escrevi este texto, pois acho que o tempo vai mostrar como Portas dança o vira, pois ele tem menos jeito para o tango, que obriga a uma grande destreza de pernas, e, aí, ele perde facilmente o equilíbrio, como se sabe.
Pardilho, 10 de Junho de 2011
José Luís Moreira dos Santos
Jornal de Notícias

Ex. Mo Sr. Diretor,
Escrevo-lhe para manifestar a minha estranheza face a uma notícia, publicada no jornal que vexa dirige tão digna como esmeradamente, que “informa” que o cidadão Paulo Futre foi o maior “beneficiado” no conjunto de votos nulos do ato eleitoral da passada semana. A notícia, chamemos-lhe assim, refere que o número de votos nulos foi de 75.281, porém, nada diz sobre a quantidade de votos em que era manifestado o apoio a Futre ou nos quais constava o seu nome. Se 2, 50, 1.ooo ou 75.000, já que, ao que é citado na dita notícia, este nosso concidadão terá ficado muito satisfeito. Ora não referir o número de eleitores, dos tais 75.281, que escolheriam Futre, em contraponto com a pura e simples anulação do seu voto, não é, não pode ser, despiciendo, porque Paulo Futre pode achar que a manifesta simpatia de dois votantes lhe chegava para deixar o seu ego nas cercanias do Céu. E se foram 75.000? De qualquer modo ficou Futre e nós todos, os portugueses, sem saber se tal demonstração de simpatia é ou não suficiente para ele se abalançar para uma candidatura, próxima ou distante, à presidência da República, por exemplo. E nós mesmos vamos ficar sem saber se, em tal hipótese e conhecedores do número daqueles que pelo menos nestas eleições o “apoiaram”, ele está bom da cabeça ou se seguro de uma estrondosa vitória. Não acha, Sr. Diretor?
Bem sei que nos tempos que correm, ou seja, num tempo em que um País, a Líbia, está a ser bombardeada em nome - e nem me atrevo a questionar a assertividade da medida - de uma luta entre bons e maus, a nós cidadãos, que até nos achamos capazes de utilizar aquele bocado do nosso corpo a que alguém um dia, não sei bem porquê, chamou cérebro, até ao dia de hoje, não nos foi dado saber quem são, onde estavam, o que querem – adivinhamos que a morte de Khadafi – como apareceram, etc., de forma a justificar que assistamos como zonzos à destruição do País de África que tinha um tão elevado nível de vida. Bem sei, nós, os cidadãos que apreciam o silêncio, não somos capazes de pensar que há direitos que fogem do âmbito do que o nosso juízo apelida, sim apelida, de natural. Háde ir longe, quem assim pensa…..!
Sabedor de que vexa me desculpará o atrevimento,
José Luís Moreira dos Santos
Rua Maurício de Almeida, nº 8
3860 – 505 Pardilhó - Estarreja
B.I.Nº.4940090
Cont. nº. 137419457

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Foi você que falou em crise política?

Foi você que falou em crise política?

Nos dias que correm, sobretudo depois do chumbo político do PEC 4, que nos dizem querer significar Programa de Estabilidade e Crescimento, mas que de facto é um pacote de medidas que visam um maior empobrecimento do País e dos seus cidadãos, sendo que pior para os mais pobres, uma vez que propõe estabilidade para os já estabilizados e o crescimento dos impostos sobre os rendimentos do trabalho e das pensões, o crescimento de cortes nos apoios sociais, não o crescimento do PIB, o mesmo é dizer, mais emprego, melhores salários, mais produção, etc., assistimos, uns mais estupefactos do que outros, a um fartote de declarações no sentido de nos acordarem para uma realidade que esses sábios conhecem de cor e salteado, mas que nós, cidadãos especialistas em especiarias gourmet, não temos nem inteligência nem a capacidade de ver e perceber o que nos rodeia, pois esses são dons que no início do mundo foram distribuídos segundo um misterioso critério que de tão bem guardado ainda permanece no segredo desses deuses.
Todavia, o tal PEC, que para mim significa “plano estratégico de calamidade”, reprovado na A.R. pelos “partidos da oposição”, não é nem a origem nem a causa daquilo a que esses tais palradores do costume chamam crise política, pois a consequência desse chumbo foi o pedido de demissão do P.M., isto é, a inevitabilidade do recurso a eleições antecipadas. Mas eu pergunto: desde quando colocar o único responsável por tudo o que acontece neste ( e o mesmo se aplica aos outros) País, o Povo, é sinónimo de crise política? Bem, para alguns dos figurões que escuto, a Democracia é a sua vontade legitimada pelo voto, mas desde de que o voto legitimador seja regulado, certinho, orientado no seu interesse, e não o poder de cidadãos livres para expressarem a sua vontade em razão do que lhes parecer melhor e daí sair a formação de uma vontade geral do País, a qual deve ser tida em conta no momento das escolhas que o poder político terá que fazer no futuro próximo. Há algo de errado nisto? Talvez, talvez o facto de alguns terem de explicar no decurso da campanha eleitoral qual a razão pela qual prometeram abaixamento dos impostos e desde então os terem aumentado uma porção de vezes, por que prometeram um referendo sobre a adesão à EU e logo de seguida disseram que afinal já não era preciso, etc., mas em democracia a coisa funciona assim, mesmo que alguns queiram levar por diante a sua ideia de suspender a dita.
Não, a formulação teórica de que estamos diante de uma crise política por virtude do chumbo do PEC é uma fraude, uma vez que se tratou apenas de um pequeno pormenor num processo de calamidade que atingiu o nosso país (bem sei que não só mas as causas e as consequências são muito diferentes) há cerca de duas dezenas de anos, quando os sucessivos governos, do P.S. e do P.S.D., com ou sem ajuda do C.D.S., se apoderaram sem freio nem pudor das instituições que formam a estrutura do Estado. Já li alguns estudos sobre a evolução da economia portuguesa dos últimos 35 anos, já li sobre a evolução da despesa pública durante o mesmo período, já li sobre aspectos parcelares dessa evolução, mas coisa engraçada! nunca tive oportunidade de ler fosse o que fosse sobre o valor das transferências de bens do Estado, NOSSOS, para contas privadas, e se não fosse pedir muito, sobre os meios usados, os responsáveis; como também não li nada sobre o número exacto e preciso daqueles que fazem parte do rol de vencimentos da administração pública, da despesa pública, e que de facto são apenas uns tipos que estão lá colocados pelos partidos do arco do poder a “tetar”, etc.
É que todos sabemos, sim sabemos, que por meros meios administrativos, são locupletados milhares de milhões todos os anos ao erário público por acção de gente pequena que mais não é que a mixórdia que emporcalha as nossas vidas, sem que aqueles que são sérios e estão na política pelas melhores razões, - e como já aqui afirmei num artigo sobre a crise das instituições, há gente séria em todos os partidos, como os haverá desonestos igualmente em todos, em número e percentagens diferentes, é certo -, não se demarquem desses abutres por razões de fidelidade partidária, sendo, assim, metidos no mesmo saco da apreciação degenerativa da política.
É minha profunda convicção que aquilo a que muitos chamam crise política - e que do ponto de vista dos seus interesses assim pode ser classificada, mas só desse ponto de vista, porque pontual, com uma saída democrática, uma vez que coloca o Povo perante as suas responsabilidades -, é resultado daquilo que em sociologia política se pode chamar de “oportunidade de contexto”, a qual, para ser devidamente analisada, exige cabeça fria, uma vez que depende de uma multiplicidade de factores, de cariz interno e externo, e muito especialmente do perfil pessoal dos principais actores políticos, tendo em vista as suas aspirações, o carácter, graus de responsabilidade e dependência, ambição, quantidades, etc., e aqui é impossível contornar os nomes de Sócrates, Cavaco, Passos Coelho e Paulo Portas. Porquê? Ora, ora! Mas, proximamente, darei a minha versão dos factos que acho mais relevantes sobre a tal “oportunidade de contexto”.



Foi você que falou em crise política?

Vamos a factos: a única vez que foi necessário, no nosso País, recorrer a eleições legislativas antecipadas em resultado da aprovação de uma moção de censura ao governo, cerca de dois anos após a sua eleição, aconteceu em 1987, pois em 1985 o surgimento na cena política portuguesa do P.R.D., havia causado uma significativa dispersão de votos, que em números redondos se dividiram deste modo: 30%, PSD; 21%, PS; 18%, PRD; 15;5%, APU(actual CDU mais MDP/CDE); 10%, CDS; 1,3% UDP. É assim, e em consequência da responsabilização do PRD por parte do eleitorado, do aparecimento de Cavaco como líder do PSD em resultado dos tumultos internos neste partido e da celebérrima rodagem do citroen, desde do Algarve à Figueira, do desaparecimento do MDP/CDE, e a consequente mudança de nome da coligação liderada pelo PCP, que se passou a designar de CDU, das relações azedas de Soares com Eanes, etc., que o PSD vai obter a primeira maioria absoluta em número de votos, 50,22%, quando até então só havia havido maiorias mas por repartição de eleitos e não de votos. Maioria absoluta que se repete em 1991, com 50.60% de votos.
Todos sabemos que Cavaco e Soares não morriam (não morrem) de amores um pelo outro, mas como Cavaco disponha de maioria absoluta, as coisas, mesmo com mandatos cheio de vicissitudes, mas também com iniciativas políticas que SEMPRE foram do agrado de Soares, como o processo de adesão à hoje EU, lá foram andando, tendo como pano-de-fundo uma verdadeira febre do betão, assim como dos milhões distribuídos por todos os souberam fazer as amizades certas, bem como os milhões dados a quem quisera abandonar terras, abater barcos de pesca, comprar jipes, etc. Não, não me basta saber que estou a dizer a verdade, mas que esse período, como afirmei no artigo anterior, foi um período em que a crise que nos afecta hoje, foi quando a nossa crise, a verdadeira, começou, e que desde então vem ganhando forma e conteúdo, porque a roubalheira e a compra da alma e da mente da classe média que se foi formando a partir dos anos sessenta em Portugal, e que se alargou e fortaleceu com o 25 de Abril, foram incrementadas em razão de duas razões complementares: os euros que vieram da EU como fazendo parte do pagamento pela venda de tudo o que da nossa independência vai para além do Hino e da Bandeira, e que foram malbaratados em favor de uns quantos, mas que agora nos estão a ser exigidos de volta; as quantias disponíveis pela banca para financiar todo o tipo de consumo, desde viagens, vida à grande para as classes alta e média e algum desafogo para parte da classe trabalhadora, para aqueles que tinha o seu emprego, etc., e para financiar o investimento em bens de longa duração, como habitação, vindas do recurso a financiamentos a baixo custo, já que os bancos europeus foram inundados por somas astronómicas oriundas de negócios criminosos e fraudulentos, dominados por máfias que com a entrada do euro se viram a naufragar num oceano de francos, escudos, marcos, pesetas, etc., que de um momento para o outro ou passavam por um processo de lavagem, mesmo com baixa “taxa de rentabilidade”, ou teriam que ser incinerados sem qualquer proveito.
E para que servem os paraísos fiscais, as off shores, os bancos pirata, etc., senão para servirem esquemas de alta fraudulência? Pois bem, quando os aprendizes de feiticeiro foram acordados pelo estrondo da crise financeira internacional, verificaram que essa crise, do ponto de vista financeiro, também era nossa, porque de globalização falaram e se vangloriavam, e que do ponto de vista económico continuávamos onde sempre estivemos: a ver o desenvolvimento estruturado, racional, sustentado por um canudo, independentemente de nos ter passado pelos olhos, sob a forma do aumento do número de novos - ricos e de exemplos anacrónicos de exposição dessa riqueza, muitos milhões de euros. Anos de oiro, diziam alguns dos que hoje, porque nos pedem o retorno, dizem, crise política! Vamos lá nós entender isto!
Porém, ao ver que tudo é tão fácil e sedutor, com a saída de cena de Cavaco da área da governação para a área da simples representação, Guterres acha-se pronto. Vai daí, ganha, em 1995, pelo PS, as eleições com cerca de 44% de votos e 112 deputados, enquanto o PSD tem 34%, o CDS, 9% e a CDU 8,5%. E em 1999, consegue 44,5% de votos e aquela que eu acho que é a maior maioria do número de deputados que se pode obter em política desde que se seja democrata de coração e não de palavreado, 115, exactamente metade da câmara. Porquê? Porque quem de facto quer governar e não mandar, procura, sustentado numa base de apoio quase absoluta, encontrar compromissos que traduzam uma efectiva vontade geral, termo caro a Rousseau e de que sou um fervoroso adepto. Ora, vistas bem as coisas, até aqui, e tendo em linha de conta os actores enunciados, só de crise se pode falar. Mas há mais.
Com a fuga de Guterres às responsabilidades da sua desgovernação - ainda que hoje vejamos o seu super ministro Pina Moura - e eu estou à vontade para falar deste artista, por razões que não têm nenhum interesse -, que vendeu a pataco, melhor dito, transferiu da bolsa de bens do Estado para contas privadas, na tv, a dar lições de bem desbaratar a toda a velocidade, qual D.Duarte do ramo das finanças, e enroupados com a tanga de criação barrosista, em 2002, o PSD alcança 40% dos votos, o que em comunhão de causa com os cerca de 9% do CDS, vai dar lugar a um governo que será a plataforma para o tiro de canhão que será a deserção para o bem bom de Bruxelas daquele que nos tapou as partes com a dita tanga e ascendeu ao topo do poder fáctico do alinhamento burocrático. Bem, mas com tudo isto, parece que me esqueci do tema inicial, ou será que …, não, não, já sei, é da crise política, da tal que sendo feminina, tem barbas brancas. É que a seguir ao bate pés de Durão Barroso, segue-lhe Santana Lopes, por quem, quero dize-lo, não tendo a mais leve simpatia política, mas por quem tenho simpatia pessoal, pois já o vi ser acusado publicamente de quase tudo, às vezes de forma indecorosa, e nunca o ouvi dizer de muitos dos que o acusam, outras coisas que não fazer avaliações políticas, repito, políticas, dos seus actos e opções, sem rancores à vista. Contudo, falar de Santana Lopes e de responsabilidades políticas, é falar de crise.
Mas como um processo é um fenómeno de continuidade, também a nossa crise continuada era uma porta aberta a alguém que desde o baptismo engana quem nele acredita, pois ao atribuir a Sócrates o nome de um Ícone da luta pela verdade, da rectidão e da transparência, mesmo que em situação de adjunto de José, os seus pais pensavam estar perante alguém que diria sim quando acreditasse que essa era a razão de ser da sua adesão a uma causa, a um sou, penso, quero, faço, etc., e que diria não quando quisesse afirmar a sua recusa a algo com que não concorda, não quer, não sabe, não pensa, eu sei lá! Por isso, tratando-se de um mentiroso relapso e não de alguém com as características que um mero conhecedor do Sócrates original, o filósofo grego, é capaz de perceber, este, o actual PM, só faz com parte do Povo da nação que diz governar o que fez à esperança dos seus progenitores, desilude. Como tiveram ocasião de verificar, disse parte do Povo, não o Povo (todo) pois da vida cada qual tira a experiência que quiser.
Portanto, perante o que ficou dito, e depois de sabermos que Cavaco é um enciclopédico narcisista, que vê em si a concentração de todas as virtudes e de toda sabedoria, alguém tão auto-suficiente como Napoleão, o sol das nossas vidas; que Guterres é um vulgaríssimo palrador, alguém com uma extraordinária lata, com capacidade para falar sobre coisas sobre as quais nunca perdeu um segundo a pensar - não estou a falar de erros ou de enganos, porque isso acontece a todos os que agem, estou a falar de demagogia pura, de retórica vazia, da verbalização de engodos; que Durão Barroso foi o Guterres do PSD; que Santana Lopes é inverno no verão e calor em Dezembro, quero dizer, que está sempre fora do tempo e com a orientação de cata vento; e que Sócrates é ainda mais do que acima disse, pois é também incompetente na máxima força; que Passos Coelho, como escrevi num artigo por ocasião das eleições internas no PSD, que não foi publicado na altura, é, simplesmente, o Sócrates do PSD, sem mais, não tínhamos que falar de crises e não de crise?
E mais ainda, sabendo que todos estes personagens têm uma inigualável capacidade para escolher aqueles seres miméticos que os rodeiam, como podemos admitir que nos falem de crise hoje, sem gritarmos que a crise veio com todos estes personagens, e com o desleixo, melhor dito, com a aceitação por parte da generalidade dos portugueses da venda da sua alma, da sua identidade a troco de um prato de lentilhas que agora nos cabe pagar com língua de palmo, pois quem nos vendeu gato por lebre sabia que assim seria, e quem nos comprou esses restos de dignidade, sabia que como País de gente honrada, no momento do refluxo, pagaríamos tudo, com os juros que nos fossem exigidos, em nome de valores que os trapaceiros muito valorizam nos outros, neste caso, nos portugueses. Valores esses que os nossos dirigentes apreciam nos cumpridores com os seus deveres, independentemente da classe a que pertencem, assim como dos humildes. Por isso, esses dirigentes, usam o sofisma do interesse do País como argumento quebra resistências; e crueldade da fome e da miséria, que vejo diante dos meus olhos sob formas que me levam a desenvolver sentimentos tão contraditórios como repulsivos, para matarem a esperança de um Povo inteiro, e para transformarem os corpos secos dos famintos em palha que arde na fogueira do desespero.
Crise é a FOME que tantos e tantos portugueses enfrentam, crise é um pai/mãe querer dar aos filhos aquilo que lhes é ABSOLUTAMENTE indispensável à existência e não lhes poder dar, porque a luta pelo poder é outra coisa bem diferente, é uma calculada e vergonhosa forma de vida de uns quantos rapazes para quem a política é a arte do paradoxo, porque política, aquela que visa servir a comunidade, o bem da humanidade, isso é coisa nobre, um espaço onde se moveram e movem pessoas do mais alto gabarito humano, intelectual, ético, moral. etc. Como fomos capazes, como Povo, de descer tão baixo? Até a esperança, que é algo que fica entre o desespero e o sonho, nos querem roubar.
Mas, então, como se explica a tal oportunidade de contexto?
De há muito que a luta pelo poder, apenas isso, faz entreter os dirigentes dos dois maiores partidos em matéria de representatividade parlamentar, ao mesmo tempo que a personalidade de cada um dos dois principais responsáveis políticos, Cavaco e Sócrates, os afasta do desejado nível de lealdade institucional que os seus cargos de cedência precária e temporal, diga-se, exigiam, bem como o nível de contestação dos restantes partidos representados na A.R. e nas ruas, adensada pela campanha eleitoral para a eleição do P.R., os problemas em torno da dívida soberana, etc., criaram um ambiente de crispação política do qual os principais responsáveis estavam desejosos por sair, ou seja, o contexto favorável para um golpe que permitisse satisfazer a estratégia particular de cada um dos intervenientes.
É então que aquando da tomada de posse de Cavaco como P.R., lhe apetece - sim é muito de apetites o P.R.- fazer um discurso em que de forma clara e objectiva diz: aqui sou eu quem manda, e quem não estiver bem que se ponha melhor, porque se não eu….Mas se este discurso é milimetricamente dirigido, Sócrates pensa, já te respondo à letra, como, aliás, mereces. Vai daí, mete-se no avião rumo à Europa. Ali, considerado como é pelo alfobre de burocratas que lhe dizem ao ouvido o que as Merkl lá do sitio lhe dizem com voz de mando, de modo consciente e determinado, ofereceu um PEC numa bandeja engalanada pela deslealdade para com o P.R., a A.R., os partidos lá representados, os parceiros sócias, os seus próprios ministros, o Povo em geral. Em resposta, os partidos da oposição tiram-lhe o tapete, o P.R. esfrega as mãos de contente, pois sem ter tido usado nenhum dos seus poderes para mostrar quem manda, obteve mais que o resultado desejado, o PSD, para além de esfregar as mãos, também sacode o rabo, pois pensa que as cadeiras do poder estão a ficar vazias e que é preciso começar a tirar-lhes as medidas. Paulo Portas sussurra aos ouvidos dos seus jovens turcos, é desta, é desta que vou comprar os outros dois submarinos que ficaram na lista de encomendas quando comprei os outros dois. Louça rejubila e proclama, é o momento certo para a alternativa de esquerda com que sonham os que sonham, e onde terei papel de líder, claro. Jerónimo, reflecte: estamos diante de duas situações contraditórias, pois podemos dizer que este é o resultado da luta dos que lutam, e camaradas, a nossa luta venceu, mas também podemos estar perante mais uma oportunidade perdida, diante condições político/sócias que nos parecem claramente favoráveis e, depois, o resultado eleitoral ser décima acima décima abaixo, enquanto que os verdadeiros responsáveis, na visão de Jerónimo, claro, mas também de muitos dos que irão contribuir para que tudo fique na mesma, vão obter resultados que lhes permitirão repartir o poder entre si. Mas há-de ser o Povo a pronunciar-se, remata satisfeito. Então, e como fica Sócrates, o principal responsável do momento, no meio disto? Primeiro, está aliviado, só precisa de dar voz aos seus “calimeros” de serviço e estar atento aos vários e permanentemente diferentes discursos do PSD sobre as suas propostas de agravamento da crise social, e mostrar que um mar revolto não é menos perigoso que um partido dirigido por um grupo de aventureiros que querem copiar as medidas políticas já experimentadas em alguns países da América Latina, onde se verificaram todos aqueles milagres económicos que deixaram mais de 50% de população na miséria e uma pequena elite oligárquica estupidamente rica; segundo, vai esperar para ver se tem ou não tem que recorrer à chamada ajuda externa, e se tiver enquanto P.M. em gestão, vai falar como nunca falou com TODOS os agentes políticos, sociais, financeiros, o que se quiser, por forma a garantir que muitos deles trilhem o rabo nessa decisão; vai por os motores da propaganda do PS a trabalhar, porque diante de um microfone, uma câmara de tv, etc., ainda está para nascer em Portugal quem lhe morda os calcanhares, e ele precisa, e sabe faze-lo como poucos, de responsabilizar todos os seus adversários pela calamidade vigente e fazer-se de vitima de raivas, bruxedos, tsunamis e de assassinatos de toda a ordem ; terceiro, vai sair das eleições numa situação que lhe permitirá ser ele e só ele a escolher o quê, como e onde vai fazer.
Como se pode verificar, a oportunidade de contexto significa, politicamente falando, um momento de que todos os agentes se aproveitam para tomar decisões que satisfaçam as suas reais aspirações, sendo que todos consideram que saíram, por uma ou outra razão, vitoriosos em função das perspectivas estratégicas e das expectativas criadas. E entretanto, rei morto, rei posto, mesmo que lhe aconteça ficar numa situação pior que a do rei D.João II, que verificou que era o rei das estradas de então, pois estas, as estradas actuais, já há muito que têm outros donos. Mas a dança vai de roda!
Pardilhó, 27 de Março de 2011
José Luís Moreira dos Santos
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quarta-feira, 13 de abril de 2011

Carta aberta ao Ex.mo Sr. Dr. Fernando Nobre

Carta aberta ao Ex.mo Sr. Dr. Fernando Nobre.

Ex. mo. Sr. Dr. Fernando Nobre,
Primeiro que tudo, deixe que lhe peça desculpas pelo atrevimento, mas resolvi escrever-lhe esta carta aberta, quer dizer, do conhecimento geral, não para lhe pedir explicações, tentar cobrar algo ou manifestar algum tipo de descontentamento ou satisfação pelas suas atitudes e escolhas mais recentes. Porém, não sendo seu amigo, sou alguém que tem pela sua pessoa uma extraordinária simpatia. Assim, depois de muito cogitar, pareceu-me acertado, por esta via, convidá-lo a que preste um pouco da sua atenção sobre umas questões que lhe quero transmitir.
A dimensão humana do Sr. Dr. Fernando Nobre.
Sou um dos milhões de portugueses que se habituou a ver em si um exemplo de Ser Humano, alguém capaz de nos mostrar a todos que há quem se sinta bem a ser de si nos outros, uma pessoa inteiramente disponível para aqueles que na valeta da sorte são da Humanidade a parte de fora da sua essência. Em suma, como milhões de outros, via em si o melhor de nós todos, a perfeição em pessoa. Não, não foi o Sr. Dr. que disse de si mesmo tal coisa, fomos nós que o idealizamos assim, talvez pelo facto de nos vermos como o contrário absoluto dessa imagem. Contudo, é bom de ver, que depois de as igrejas cristãs nos transmitirem de Jesus de Nazaré, então como Cristo, que afinal era Deus, ficámos todos de sobreaviso de que a um humano está vedada a possibilidade de ser perfeito. Ainda assim, como Ser Humano com quem os desprezados da vida podem contar, o Dr. é milhões de vezes melhor que todos aqueles que, em razão de uma outra sua dimensão, produzem juízos sobre si sem cuidar de separar registos. E, é por isso que lhe quero dizer o seguinte: sobre o ponto de vista humano, o Sr. continua a ser para mim uma autoridade moral, alguém por quem nutro real estima e admiração.

A dimensão política do Sr. Dr. Fernando Nobre.

Para tentar ser rigoroso, permita-me que faça aqui uma divisão, ou seja, que veja dois momentos na sua aventura pela política: a candidatura de V.Exa à Presidência da Republica; e a sua recente opção pela candidatura à Assembleia da Republica.
É que no primeiro caso, V.Exa apresentou-se como equidistante dos partidos e como um genuíno caso de cidadania. Por essa razão, estive muito atento à sua mensagem política, como é dever de todo e cada cidadão, mas depressa cheguei à conclusão que não tinha nenhum motivo para me desviar do caminho que sigo há 37 anos, pois achei que V.Exa se apresentou em função do que humanamente é, quer dizer, falou-nos da sua extraordinária autoridade moral, da sua entrega às nobres causas, etc., mas não trouxe nada de novo no que diz respeito à arte da política, sobre as contradições que a caracteriza, sobre o que está em causa em cada escolha que politicamente se faz, etc. A certo momento campanha fiquei até com a convicção de que a sua mensagem continha uma parcela de cobrança de uma dívida antiga do País para consigo. Mas mesmo assim, posso segredar-lhe que nada fiz para evitar que, sob o ponto de vista do voto, o Sr. Dr. não bebesse do pote que tinha por perto, pelo que fiquei à espera de ver o seu desempenho eleitoral, mesmo em razão do interesse que tem para uma Democracia madura uma candidatura independente. Até pelo facto de V.Exa ter enfatizado até à exaustão que não era nem queria ser político profissional. Veja bem, para alguém como eu, que gosto muito de alinhar as minhas expectativas políticas em razão da perspectiva que me orienta, e eu já tenho idade para escolher bem o horizonte, que não tendo partido é alinhado, o resultado da sua candidatura não me podia ser indiferente, algo sem importância. Mais ainda, repito, pela estima e consideração que a sua pessoa me merecia e merece.
Todavia, na intervenção televisiva que o Sr. fez após serem conhecidos os resultados eleitorais, fiquei com a ideia de que V.Exa reagiu como quem tinha acabado de sair do fundo de um poço, que estava aliviado de um susto. Reforcei essa ideia passados uns dias, quando afirmou que não era sua intenção dar qualquer passo no sentido de transformar o apoio obtido em algo mais que um grupo que se havia de juntar sempre e quando assim entendesse, e disse para mim: o Dr. Fernando Nobre, em termos políticos, repito, em termos políticos, nesta eleição, já disse ao que vinha, deve ter ficado vacinado. Para que saiba, de quase tudo o que aqui expresso, tenho registos.
No segundo caso, na sua recente opção política, quero fazer-lhe ver algo que V.Exa já se terá dado conta, entretanto. Que não estamos na presença de um simples passeio pela política, como aquando da candidatura à P.R., estamos perante uma aterragem nas profundezas da política, no contexto político/partidário. E como tudo é diferente, Dr! E quero ainda dizer-lhe, a este propósito, mais o seguinte:
a) Que o Sr. aceitou o convite vindo de Pedro Passos Coelho, e esse facto deixa-me no centro destas duas dúvidas: se foi o poder de sedução deste, e em política o poder de sedução é realmente um verdadeiro poder, ou se foi a ferida da sua frustração que ainda estava aberta, quente, talvez a ferver. Mas, agora que já se comprometeu, esteja atento Dr., pois V.Exa foi convidado pelo líder de um partido que conhecemos por PSD, mas que tem lá dentro quatro partidos, entre os quais um tal PPD. O Dr. há-de vir a saber o que isso é, mas, como mera comparação, eu digo-lhe que o PPD está para o PSD e para a política portuguesa como os adeptos do Vitória de Guimarães estão para o futebol português e para a própria equipa. O que quero eu dizer? Pense um pouco, mas posso afirmar que do ponto de vista da política, entendida esta como um lugar de chefes, por lá estes caiem como tordos, quando menos esperam. Não, não se preocupe porque o Sr. não está com aquela gente que faz missas a que chamam congressos, onde um debita discurso e os restantes dizem amém! Não, nada disso, no PPD, goste-se ou não, a lengalenga não é o mesmo que conversa mole. Aliás, o Sr. vai ter oportunidade de verificar como funciona uma organização que foi idealizada para suster os avanços da Revolução em nome da democracia, e que quando achou por bem apontar a porta de saída ao seu criador, não hesitou! Ali há muito mais que simples palpitações democráticas, há o gosto por uma certa forma de a viver, embora às vezes não pareça.
b) Que esta sua escolha o coloca, do ponto de vista político, na mira da minha má vontade, quero dizer, do lado oposto ao da barricada onde ideologicamente me encontro. Contudo, do ponto de vista humano, o Dr. vai estar braço - a - braço com pessoas pelas quais daria o meu sangue, e o Sr. será mais um nessas condições.
c) Que essa escolha o coloca diante de uma profunda contradição perante muitos daqueles que gostam de si, que votaram em si, que esperavam algo de novo na política de si, etc., etc., pois, em resultado dela, da escolha, o Sr. Dr. em lugar de subir um degrau no plano da afirmação da sua equidistância política e como um valor de reserva republicana, acabou por dar um trambolhão na escuridão da indiferença, sem remédio possível na compreensão geral. E é em face disto que gostaria de lhe pedir o seguinte:
1- Não admita, mesmo assim e seja a quem for, que subestimem, por razões políticas, a sua dimensão humana.
2- Assuma sem rodeios que a sua opção não está nos limites do exercício de um direito, porque a Liberdade e a Igualdade são condição não um direito, e o Sr. Dr., quaisquer que sejam as minhas discordâncias políticas a partir de agora assumidas, é um cidadão livre e igual a todos os demais. Todavia, em política espera-se de todos os que nela são actores, que estribem a sua acção em critérios de decência ética, e desse ponto de vista a sua escolha, para tantos e tantos portugueses, deixe muito a desejar. E nem lhe digo nada quando a sua opção é analisada sob o ponto de vista moral. Tape os ouvidos e feche os olhos! Então, cabe-lhe o dever de explicar, sobretudo àqueles que ainda estejam dispostos a escutá-lo, as suas razões para a opção partidária que fez, a fim de pelo menos tentar mitigar os danos pessoais que vai sentir, dado que há um circo político montado à sua volta. Pela minha parte, de dedo em riste lhe digo, tem o dever de não alimentar esse circo.
3- Imploro -lhe, com toda a convicção e exigência, que não deixe que a AMI, a sua imagem, a sua dignidade e independência seja beliscada nesta luta que agora começou e que lhe é, à AMI, inteiramente estranha; pois que se ela, a AMI, tem muito esforço, sangue e suor seu, ela tem igualmente sacrifícios a rodos de muita gente, e NÃO PODE ser arrastada para a lama da indecência, NÃO PODE fazer parte do balanço do DEVE e HAVER que, fatalmente, brevemente será feito, talvez quando o Sr.Dr. menos esperar. Os portugueses não lhe perdoariam se você não fizesse tudo o que deve, não só para evitar como impedir que a AMI saia ilesa, limpa, incólume desta sua aventura, já que se trata de uma escolha exclusivamente sua, mesmo que, a meus olhos, legítima. Se verdadeira, diga-se!
4- Que responda à pergunta que muitos portugueses fazem para si próprios neste momento: afinal, qual será o verdadeiro Dr. Fernando Nobre, aquele que se dizia diferente dos políticos profissionais ou aquele que o quer ser, ao que parece, pelo preço de uma alma? Só que esta interrogação coloca-me - a mim, que sem qualquer tipo de dificuldade lhe reconheço o pleno direito a ser quem é na inteireza das suas dimensões - perante um estranho dilema: o de vê-lo a ser avaliado como um todo, no seu carácter, quando o que muitos de nós quer fazer é uma avaliação à sua coerência política, aos princípios que o orientam nesta vertente da vida em sociedade.
Sei que o Sr. Dr. sabe melhor do que eu que o mundo é uma coisa complicada e que a vida é o pleno das contradições nele, mas estou convicto de que ainda não sabe o que é o mundo da política, que é um milhão de coisas, mas que, nos nossos dias, é para muitos dos seus actores principais a arte dos paradoxos.
Desejo-lhe toda sorte do mundo para a sua vida, bem como o pior resultado possível na sua eleição, o mesmo é dizer, para força política que o seduziu e que, também por aí, nos quer enganar. E, tirando isso, goze de toda a Felicidade que, tenho a certeza, o Sr. já sentiu dentro do peito e viu de olhos nos olhos.
Os meus respeitosos cumprimentos.
Pardilhó – Estarreja, 12 de Abril de 2011
José Luís Moreira dos Santos

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A escala e os príncipios nas virtudes humanas

A escala e os princípios nas virtudes humanas.

Durante muitos anos da minha vida, por razões só a mim imputáveis, tive enormes dificuldades em entender, até porque aceitava a tese como válida, a ideia de Felicidade em Kant, dado que me parecia, e parece, que a obtenção da Felicidade por alguém estar associada às virtudes desse “alguém”. Bem, conhecemos todos aquela máxima popular de que só os tolos podem ser felizes, daí a que sejam tantos aqueles que se fazem tolos para disso tirar proveito próprio vai um passo. Mas adiante! Por isso, bem entendido, sempre considerei que para o filósofo rigorista, ser feliz era igual a ser virtuoso, e isso deixava-me triste, visto que eu sempre cultivei o desejo de ser feliz, só que as minhas virtudes, de escassas, nem mesmo eu era capaz de as ver, de as apalpar, de as sentir. Por isso……
Como, intelectualmente falando, sou um produto caseiro, solitário, tentei por todos os meios ao meu alcance encontrar uma explicação para este meu dilema, pois durante algumas ocasiões cheguei a pensar que se tratasse, essa aparente impossibilidade, de uma questão de escala, quando vim a descobrir, com muito esforço e até algum sofrimento, que tudo se devia a uma questão de princípios. Tive que reler Sócrates, ou o que sobre ele foi escrito, e não é pouco, garanto-vos; reler Espinosa, Rousseau, Feurbach, Marx, cujo saber formam a base do que eu quero saber sobre a Felicidade dos Homens, mas vários outros, até Kierkegaard. Para mim é um prazer colocar-me, voluntária e afincadamente diante deste tipo de desafios, a minha esposa é que gostava mais que eu me dedicasse a outras tarefas mais de ordem prática, mas vamos remediando as coisas!
Depois dessa luta, e diz um verso de uma das mais belas cantigas do cancioneiro tradicional português, dos Açores, “ coitado quem não peleja, rema que rema, passa a vida a navegar”, acho que descobri o que se me aparentava tão difícil, mas que afinal era tão intuitivo, tão simples! Diante das contradições da vida em sociedade, quer dizer, por sobre a realidade concreta que vive o Homem, cada um constrói, influenciado pela educação familiar, do meio que o cerca, pelo tipo de amigos e relacionamentos de todo o tipo que vai tendo, das circunstâncias, para lembrar Ortega y Gasset, cada um de nós forma a sua consciência ética, sem deixar de “herdar” uma moral. Muitas vezes, e o recurso a Sócrates dá-nos disso exemplo, a nossa ética colide com a moral dominante, que é também a nossa, pois, nessa matéria também somos fruto de um sistema determinado de valores que não escolhemos, e somos levados a fazer uma escolha. É então que aquilo que para alguns é um problema de escala, para outros é uma questão de princípios. Que fazer, então?
Aquilo que me chegou a parecer uma decisão de carácter transcendente, no limite da minha capacidade de aceitação, que envolvia “seres” distantes e omnipresentes, é, depois de uma análise ponderada, afinal, uma questão de respeito pelos princípios estruturantes da consciência ética de cada qual. Um simples exemplo: diante desta sociedade desigual, formada por velhacos de toda a espécie, com milhões de Seres Humanos a morrer de fome, enquanto outros desperdiçam em dobro o que seria mais do que o suficiente para todos se alimentarem e viverem bem, quem quiser ser feliz só pode fazer duas coisas: lutar de acordo com os seus princípios na denúncia do que está mal a seus olhos, tentando demonstrar, pelo exemplo, que é possível e desejável que se deixe de dar prioridade nas nossas escolhas à contemplação deste mundo de horrores e se tente transformá-lo em algo melhor para TODOS; que nas suas PRÁTICAS, cada um procure a decência ética como primado da sua acção, quero dizer, em cada escolha ou contradição, em cada aparente impossibilidade, opte SEMPRE pela opção mais decente que lhe seja possível, para poder viver de acordo com os seus princípios, e essa é uma forma de virtude humana. Creio ser essa a exigência de Kant, segundo o seu imperativo categórico, na versão mais apropriada ao que quero transmitir : ”Faz somente aquilo que possa ser universalizado (para todos). Considera o outro como pessoa porque ele é um fim em si mesmo e não um meio de que te possas servir”. É claro que quem assim procede é porque tem vontade própria, e tem o profundo desejo de respeitar um preceito fundamental da Natureza: o Homem é este e aquele, na sua individualidade, porque de uma única espécie, a Espécie Humana. Não tem nada que saber, está na linha da razão prática!
José Luís Moreira dos Santos
http://Salto do canguru.blogspot. com

terça-feira, 1 de junho de 2010

Sócrates e Passos Coelho, uma cartola datada

Sócrates e Passos são dois coelhos saidos da mesma cartola. Ambos gostam de ser vistos como principes, de se enfeitarem como principes, de pensarem, quer dizer, dicidirem como principes, de fazer das aparências todas as suas virtudes, de dançarem a valsa da meia-verdade, por isso são o Sec. XVIII em cima de dois pares de pernas, um par para cada qual, que é para pelo menos parecer que algo os diferencia. Ambos gostam de ter muitos servos, craidos para tudo e para nada, e um rebanho de carneiros que mordem as verduras de ocasião, até serem levados para o descampado a fim de serem abatidos numa sessão de caça alvitrada pelo principe e seus caprichosos embusteiros.Depois farão gala da sua pontaria, e da capacidade dos carneiros para se submeterem à vontade de quem pode, de quem sabe, de quem quer. E os convidados para caçar, levam apanhadores e cães, os amestrados para servir, fa-lo-ão com causa e zelo, e os outros batem palmas, para aferir se os principes ainda têm o ouvido sensivél. E finda a caça, começa a caçada.