quinta-feira, 7 de julho de 2011

A encruzilhada do CDS
Nota prévia: sou de esquerda, desde sempre votei e voto numa mesma força política, sem hesitações nem reticências, mas sou capaz de mater o distanciamento necessário para analisar o que se passa com e na política em Portugal, visto que desde de há anos que não sendo muito participativo nas acções de carácter político, sempre vou tomando posição em vários fóruns e palcos que se abrem à minha contribuição. Quem me conhece sabe que sou assim, quem não me conhece que se não confunda, o CDS está longe do meu caminho, das minhas preferências, mas é um partido da nossa democracia, conquista maior do 25 de Abril que a quis Democracia.
Com a entrada no poder, num contexto muito difícil para si, quero dizer, com as limitações impostas pela troika, mesmo que voluntariamente aceites pelo seu líder, o CDS, ao fim de poucos meses vai confrontar-se com uma inequívoca e inultrapassável contradição: como estamos de pensões e reformas, como vamos de políticas de protecção social, em que ficamos quanto à privatização da RTP, e da Caixa Geral de Depósitos? As prioridades da governação vão ser as impostas pela troika, é certo, e quais vão ser as iniciativas do governo? E o seu parceiro do governo, o PSD, como encarará a contestação popular que se adivinha e avizinha? A qual dos parceiros do governo caberá explicar as contradições entre o discurso eleitoral e as restrições de toda a ordem que surgirão nos próximos e futuros meses, será feita a duas vozes ou a uma só voz? É que se for feita a dois, cada um para seu lado, tais explicações serão vistas pela população como desculpas de mau pagador e produto de algum mal-estar e até traiçãozinha ao parceiro, seja quem for que tome a iniciativa; se for feita a uma só voz qual será a visão preponderante? Medida pela fita da coerência? Pois então!
Mas é bom que se diga, e é esta a razão fundamental porque faço esta reflexão, que quem está em melhor posição de partida para enfrentar o ciclo político que agora começa é exactamente o CDS, basta que no momento da partida, nesta altura da formação e discussão do programa do governo saiba colocar e defender a sua posição em face do discurso equidistante dos interesses e mordomias que fez durante a campanha eleitoral. Se souber defender a sua posição à partida ficará com um muito amplo espaço de manobra, visto que numa situação de diferença de posições o CDS pode bater o pé e deixar a situação tender para a divergência, pois o PSD, é quem fica fragilizado já que é este partido que tem a responsabilidade pela solução governativa pós eleitoral. O CDS, se tiver que ameaçar a saída do governo é porque poderá apresentar como desculpa uma medida política que é contrária ao seu ideário ideológico, ao programa com que se apresentou ao eleitorado ou até aos dois, pelo que se aceitou formar parte de uma solução governativa não aceitou, à partida, trair os seus princípios e eleitores a troco de um simples lugar. Este foi o substrato do discurso eleitoral. Enquanto o PSD que será sempre, eleitoralmente falando, o primeiro beneficiado e primeiro prejudicado pelas boas ou más medidas que o governo tomar, mesmo que no anúncio das boas esteja presente algum ministro do CDS, nas más podem estar ausentes e distantes dos holofotes da fama. Se fizer as coisas bem agora, o CDS tripulará o barco da navegação como que à bolina. E o resultado desta estratégia é poder vir a transformar-se num partido mais charneira do que é neste momento, visto que o facto de ser uma charneira com voz e acção nas circunstâncias actuais, pode colocá-lo aos olhos dos eleitores como um partido que cumpre os seus compromissos e que seja com que partido for dos dois grandes, o CDS é merecedor de ter um papel a desempenhar. Paulo Portas sabe, e quem pensa que não sabe é porque deve pouco à inteligência, que este mandato muito dificilmente chegará ao fim, e que quem, dos dois partidos da coligação, melhor souber salvaguardar a sua imagem, tanto melhor poderá sair beneficiado, ainda que em resultado de um falhanço governativo. O CDS sabe, Paulo Portas sabe, que no quadro do eleitorado votante, quer dizer, daqueles cerca de 60% que vota, a transferência de votas está limitada a uns 6/8%, e que quem não for capaz de conquistar votas ao abstencionismo não sai da cepa torta, por isso, sendo o seu eleitoral cada vez mais estável, será forçoso o CDS convencer quem ainda não foi convencido por nenhum dos partidos, e isso faz-se, à direita, diga-se, dando mostras de flexibilidade na construção de maiorias governativas, soluções de governo, portanto, mas igualmente firmeza de princípios. Quem assim procede, à direita, repito, dá mostras de que merece confiança, e este é o valor que em política tudo vale.E aqui tanto faz que seja à direita como à esquerda.
Por isso, a encruzilhada do CDS é uma encruzilhada apetecível, de grande potencial político. Ademais, Paulo Portas para além de uma indisfarçável apetência pelo poder, é um bocadinho mais vivaço que os líderes políticos dos partidos mais representativos, dos cinco partidos com representação parlamentar. Foi para não me esquecer que penso desta forma agora, que escrevi este texto, pois acho que o tempo vai mostrar como Portas dança o vira, pois ele tem menos jeito para o tango, que obriga a uma grande destreza de pernas, e, aí, ele perde facilmente o equilíbrio, como se sabe.
Pardilho, 10 de Junho de 2011
José Luís Moreira dos Santos

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